O sétimo dia

Há sete dias que não te vejo.
Pior: me rasgo sabendo que estão trancados no mesmo lugar.
Torço para que o convívio forçado arruine de vez seu casamento.
E sofro imaginando que pode ser justo o contrário.
Melhor nem…
Um filho gerado na crise? Uma compaixão pelos parentes perdidos? Uma recaída em nome dos velhos tempos?
Morro de ciúmes, já disse!
Hoje é o sétimo dia do juízo final.
O domingo não podia ser mais coerente: nuvens baixas tornam esse dia particularmente sombrio. Uma neblina espessa desce pelas encostas, turvando de vez os horizontes.
Minuto a minuto a mesmice martela os meus pensamentos, ora nas mesmas inquietantes notícias; ora nos mesmos ruídos que sobem da rua.
Tento reler Camus, mas a angústia do apocalipse é latente. Volto ao noticiário…
Não há alento. Não há verdades. Não há coerência.
Quantos de nós estarão por aqui pela Páscoa?
Padecemos de múltiplas faltas: leitos, respiradores, caráter, governos, juízo.
Adiamos o inadiável, e muitos não terão amanhã.
Acumulamos por precaução.
Nos defendemos ligando o foda-se: estocamos o que não precisamos.
E morreremos com uma simples falta de ar...
Peço socorro às memórias de nossa paixão. E tudo piora.
Quando a terei novamente em meus braços?
Quando seus lábios me reencontrarão para juras de amor sussurradas em leves carícias?
Ah, minha doce e bela Catherine de muitas tardes de entrega e prazer...
Por quê me descuidei de você?